As capacidades do profissional jurídico do século 21

 

Atualmente, diante de tantos desafios que temos enfrentado, olhar para si mesmo é algo revolucionário.

Quantas pessoas lutam diariamente para quebrar ciclos viciosos, de baixa produtividade, de padrões de comportamento consolidados há anos e que impedem uma evolução nas relações pessoais e profissionais.

Quando nos damos conta de alguns níveis de alienação em nosso comportamento, começamos a tomar atitudes importantes para a mudança desses padrões e que nos impedem que façamos as coisas de forma diferente. O “depois eu vejo isso”, “deixa eu ler isso aqui rapidamente”, “não tenho tempo”, “não saio do lugar” é um discurso comum.

Estou colocando isso neste artigo pois, por uma série de razões, que vem desde a nossa infância, temos uma tendência a agir mecanicamente, pela própria forma mecanicista de pensar, que predomina de forma muito forte na sociedade.

Essa forma de pensar tem muitas vezes impedido profissionais jurídicos a lidar com uma capacidade que traz um salto qualitativo em aspectos profissionais, de forma muito contundente: A CRIATIVIDADE.

A capacidade de imaginar coisas vai nos abandonando ao longo da vida adulta. Muitas vezes paramos até de sonhar. Porém a criatividade, que está muito além dos profissionais que atuam em meios artísticos e de propaganda e marketing, é uma importante chave para abrir a sua mente para construir novas associações e descobertas.

Claro que sempre teremos de contar com nosso repertório técnico, adquirido desde a graduação, e continuarmos a busca incessante pela requalificação, consolidando nossas competências técnicas, as chamadas hard skills. Afinal, é isso o que nos garante trabalhar adequadamente nas mais variadas áreas e setores.

Porém, precisamos da criatividade para pensar em novas soluções para os problemas decorrentes do contexto das grandes mudanças em que vivemos, sejam tecnológicas, sociais, ambientais ou econômicas, o que nos leva a uma necessidade urgente de desenvolver as soft skills – competências ou características emocionais e de conhecimento, que vão nos ajudar nessa tarefa.

Segundo o psicólogo e autor do best-seller Inteligência Emocional, Daniel Goleman, habilidades que lidam com a relação e interação com os outros, como resiliência, empatia, colaboração e comunicação, “são todas competências baseadas na inteligência emocional e que distinguem profissionais incríveis da média”, afirma.

Um argumento sólido e bem construído vem da nossa capacidade criativa. Somente conseguimos elaborar boas estratégias, criar soluções a partir de ideias construídas com diversas associações do seu repertório pessoal. Esta construção criativa traz a sofisticação do pensamento a partir da introdução de diversas camadas deste repertório pessoal e é capaz de transformar o seu conhecimento num argumento singular, diferenciado e até mesmo único. Muitas vezes numa audiência, uma grande sacada vem daquele repertório em que você associou rapidamente por estar sempre atento as suas conexões de conhecimento e não a uma forma mecânica de condução de sua atividade argumentativa.

Ao mesmo tempo, com a criatividade em dia, podemos simular situações mais facilmente, abstrair do mundo concreto e rotineiro para criar novas abordagens, novas formas de prestar serviços e formas mais interessantes de lidar com os times jurídicos.

A criatividade, traz ainda um link muito forte com uma outra habilidade fundamental deste século: a FLEXIBILIDADE COGNITIVA.

A Flexibilidade Cognitiva nada mais do que sair do mainstream, e buscar conhecer a partir de novas fontes, novas lentes, modos diferentes de fazer as mesmas coisas e aprender com elas. Com a flexibilidade cognitiva conseguimos também associar e criar conexões com novos conhecimentos e evoluir nossa capacidade de mudar frente a novas situações e contextos, ao inesperado.

O escritor e futurista norte-americano Alvin Toffler (1928-2016), conhecido por obras sobre a revolução digital, a revolução das comunicações e a singularidade tecnológica, define muito bem a importância da flexibilidade cognitiva para os profissionais da atualidade. “Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler ou escrever, mas sim aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender”, esclarece.

Além da Criatividade e Flexibilidade Cognitiva, existem outras e que terão seu destaque num próximo artigo sobre o tema. Porém não posso deixar de cita-las especialmente frente ao artigo recém publicado no portal Época Negócios, de autoria do Marc Tawil e que trouxe uma ideia bem interessante. Ele arriscou determinar algumas das principais capacidades real skills que ditarão a “década das competências, inaugurada em 2021”, em artigo sobre o futuro do trabalho. Elenco algumas dessas real skills que para mim fazem todo o sentido, especialmente para profissionais jurídicos:

  • pensamento crítico sistêmico
  • gestão do caos
  • antifragilidade

A primeira real skill é fundamental para lembrar o profissional jurídico (e de qualquer área de atuação) que tudo  parte de uma mesma cadeia e essas partes se relacionam o tempo todo (empresa-sociedade-colaboradores-clientes). A segunda, para ressaltar a necessidade dele estar pronto para lidar com o novo e inesperado, e finalmente, a terceira, que enseja a necessidade do autoconhecimento para estar atento a situações que produzem efeitos inesperados.

Ainda há muito mais, pois são inúmeras as habilidades comportamentais para a busca da excelência profissional. Todas podem ser aprendidas e dependem de você.

Que tal começar a se observar e a tentar desenvolvê-las, especialmente conhecendo temas e abordagens diferentes? Vamos dar um “reset” e começar juntos esse processo?

10 softskills que vão revolucionar a requalificação profissional

  • Negociação
  • Flexibilidade Cognitiva
  • Pensamento Crítico
  • Criatividade
  • Colaboração, Adaptação e Flexibilidade
  • Resolução de Problemas Complexos
  • Habilidades Tecnológicas
  • Orientação para Servir
  • Julgamento e Tomada de Decisão
  • Inteligência Emocional, Cultura e Diversidade

(Fonte: Towards a skilling revolution – World Economic Forum)

Por Sílvia Piva – Fundadora da Nau d´Dês