Publicado originalmente no site Migalhas.

 

É preciso entender que além de sermos parte do “processo” de mudança, é preciso aceitar que o mercado mudou, está cada vez mais exigente e, para haver sintonia com tanta evolução, o direito precisa se interligar a outros ramos além do direito.

Ao longo dos anos vivenciamos diversas mudanças e inovações tecnológicas na área jurídica, mas, nada se compara ao momento atual em que vivemos. A pandemia causou mudanças na vida de todos e, principalmente, na forma de desempenhar o nosso ofício. A necessidade de adaptações foi urgente e, sem tempo para planejamento, nos vimos forçados a adaptações que, talvez, sem elas, viessem ao longo de anos ou talvez, nem conseguíssemos vivenciá-las. Foi premente a quebra de paradigmas postos e a carência de aproximação se fez presente com as limitações impostas pelo distanciamento social.

Nesse período, tivemos que encontrar soluções, criar intersecções com outras ciências e usar a criatividade no sentido de manter a qualidade na comunicação do trabalho entre os operadores do direito, departamentos jurídico e financeiro, bem como, a controladoria Jurídica/Legal Ops (independente de onde o serviço estaria sendo prestado). Da mesma forma, foi necessário ter um novo olhar para o cliente e mantê-lo com acesso à informação atualizada, constante e de qualidade. Toda essa comunicação e meios de exercer o direito precisava ser assertiva, constante, colaborativa e exitosa.

De igual modo, o Poder Judiciário precisou encontrar soluções com o auxílio da tecnologia e da inovação, para que os atos processuais e as audiências fossem mantidas e realizadas frente à incerteza de quanto tempo permaneceríamos em pandemia e vivendo essa realidade.

Os servidores do Judiciário, em home office, passaram a aceitar com mais frequência outras formas de comunicação, seja via WhatsApp, telefone, e-mails e até o recebimento de protocolos por essa via, comunicando os atos processuais e criando soluções até pouco tempo inimagináveis.

De certo, percebemos que muito do trabalho desenvolvido por quem atua no ramo do direito pôde ser facilitado com o uso da tecnologia proporcionando à todos as facilidades e os benefícios como: “reuniões assíncronas com o uso de aplicativos como o timz.flowers,”1 audiências, sustentações orais em local diverso da sede do escritório, puderam ser realizadas em formato virtual, as pessoas passaram a ter mais qualidade de vida, decorrente do fato de poderem desempenhar o trabalho sem sofrer as influências estressantes dos engarrafamentos diante da facilidade em trabalhar em “home office” ou em “anywhere office”, novas contratações puderam ser feitas com profissionais residentes em qualquer lugar do mundo, sem falar nas facilidades de comunicação e reuniões com uso de aplicativos de áudio/ vídeo e também do ganho de tempo, diminuição de custos de deslocamentos e acomodações, em casos de processos em outras comarcas.

Contudo, outros pontos deixaram a desejar e percebemos que nem tudo se resolve totalmente com a tecnologia, acarretando na necessidade de regulamentação com a LGPD- Lei Geral de Proteção de Dados, bem como, de uma legislação trabalhista mais atualizada e que se adeque ao novo normal dos trabalhadores, sejam eles ou não do direito.

Embora com necessidades de especificações, a tecnologia, é, sem dúvida, uma forte aliada para a prestação dos nossos serviços e das atividades diárias, mantendo a qualidade e a continuidade do nosso trabalho com qualidade e agilidade.

A urgência frente às mudanças somada à necessidade dos profissionais do direito de acompanharem essas inovações, fez com que percebêssemos que existe uma era pós-pandemia com desafios ainda maiores.

É preciso entender que além de sermos parte do “processo” de mudança, é preciso aceitar que o mercado mudou, está cada vez mais exigente e, para haver sintonia com tanta evolução, o direito precisa se interligar a outros ramos além do direito.

Hoje, exigem-se habilidades além das hard skills. As ditas soft skills, precisam estar presentes como habilidades comportamentais. Ademais disso, entender a intersecção do direito com outras ciências e não mais, viver o direito como uma ciência isolada e ter a tecnologia como ferramenta geradora de possibilidades, nos oferece enquanto profissionais do direito, novas perspectivas de trabalho e uma nova visão do direito.

Saber guiar o time com gestão remota, implantar nos escritórios o Legal Ops (controladoria jurídica com multifuncionalidades e métricas), ter os benefícios de redigir e protocolar petições com o uso do legal design, compartilhar informações, em tempo real, com o cliente interno e externo por meio de dashboards e sistemas de BI, vivenciar a cultura Data Driven nos escritórios e departamentos jurídicos obtendo um olhar de vários ângulos e tomando decisões baseadas em dados, e por fim, aplicar a agilidade como forma de gestão, são desafios já vivenciados e que ganhará cada vez mais importância no efeito pós-pandemia.

1 Curso advogado na era pós digital- imersão-Aula do professor Martin Restrepo.

Imersão: Advogado na era pós-digital – imersão – 1º a 25 de Junho de 2021.

Gleicy Michella de Souza Lima

Sócia do escritório Ivo Barboza & Advogados Associados (Recife-PE). Graduada em Direito pela Faculdade Integrada do Recife (FIR) e aluna do MBA Premium de Gestão para Escritórios e Departamentos Jurídicos pela Baiana Business School. Aluna da Nau d’Dês.